Burnout seletivo: quando você só ‘pifa’ nos seus próprios sonhos

Em um mercado de trabalho cada vez mais exigente, um fenômeno silencioso tem impactado profissionais de todas as áreas: o burnout seletivo. Diferente do esgotamento tradicional, ele ocorre quando a pessoa mantém alta performance no emprego, mas sente-se paralisada ao perseguir objetivos pessoais de carreira, como uma recolocação, um novo projeto ou a realização de um sonho.
Esse ciclo de exaustão, alimentado pela priorização das demandas corporativas em detrimento dos planos individuais, bloqueia a energia para investir em si mesmo, mesmo quando há insatisfação evidente com a vida profissional atual.
"O burnout seletivo é a falência emocional de quem nunca aprendeu a priorizar a si mesmo. Você entrega tudo no trabalho, mas quando chega a hora de cuidar da sua carreira, não tem mais energia. É como se você funcionasse bem para os outros, mas não para você", explica Ana Chauvet, Especialista em RH e Mentora de Carreira.
Ela aponta que uma das principais causas é a cultura da produtividade tóxica.
"Existe uma romantização do desempenho extremo. Ser produtivo virou sinônimo de valor, e isso desumaniza o profissional. A falta de pausas, a negação das emoções e o medo de decepcionar são gatilhos silenciosos desse tipo de burnout."
Entre os sinais do burnout seletivo estão o adiamento crônico de decisões de carreira, a dificuldade de responder e-mails sobre oportunidades pessoais, a comparação constante com quem está avançando e até o sentimento de indignidade por sonhar com algo melhor.
Esse esgotamento também afeta a capacidade de se expor, buscar ajuda ou agir com clareza. Segundo Ana, profissionais com burnout seletivo sabem o que querem, mas travam na execução. Por isso, a saída precisa ser gradual e intencional.
"A recuperação começa com metas pequenas. É sair da idealização de um salto de carreira perfeito e aceitar o primeiro passo possível. Um PDF de currículo atualizado. Uma conversa com um mentor. Uma manhã livre para refletir. Isso já é avanço.
Ana também alerta sobre a importância da NR1 (Norma Regulamentadora nº1), que trata da gestão de saúde e segurança no ambiente de trabalho, incluindo o reconhecimento de riscos psicossociais, como o burnout.
"A NR1 já prevê que as empresas identifiquem fatores que causam sofrimento mental, mas não basta cumprir norma. É preciso agir de forma preventiva, com escuta ativa e ações que validem o ser humano além do crachá."
Um estudo da Robert Half de 2024 aponta que 62% dos profissionais brasileiros relatam sinais de esgotamento relacionados ao trabalho, mas poucos percebem que a estagnação pessoal intensifica o problema.
Para Ana, o RH tem um papel essencial.
"O burnout seletivo não nasce no LinkedIn. Ele nasce no silêncio das reuniões em que ninguém pergunta: 'como você está?'. Empresas que criam ambientes de desenvolvimento individual, com feedbacks empáticos, pausas reais e incentivo a projetos pessoais, estão na vanguarda da retenção de talentos."
Fonte: Contábeis