Profissional do futuro: a habilidade de aprender supera o saber tudo

Profissionais que cultivam a capacidade de aprender continuamente e conectar diferentes áreas de conhecimento devem se destacar cada vez mais no mercado de trabalho, segundo tendência apresentada no SXSW 2025, em Austin, nos Estados Unidos.
A reflexão foi tema da palestra “Breadth is the New Depth” (“Amplitudes são a nova profundidade”), conduzida por Mike Bechtel, futurista-chefe da Deloitte Consulting LLP. O painel, realizado em março, defendeu que a capacidade de adaptação e aprendizado será mais valorizada que o acúmulo de conhecimento em uma única área.
"No passado, a especialização profunda era o caminho mais seguro para o sucesso. Hoje, o diferencial é saber aprender com rapidez e aplicação criativa", afirmou Bechtel, que também é professor de inovação corporativa na Universidade de Notre Dame.
A transformação da relação com o conhecimento
O ponto de partida da apresentação foi uma mudança na forma como a sociedade lida com a informação. Com ferramentas como Google, inteligência artificial e assistentes virtuais, a memorizacão de dados deixou de ser um diferencial.
“Se saber fosse suficiente, o campeão de Trivial Pursuit seria CEO da Apple”, ironizou Bechtel. Para ele, o novo valor profissional não está em quem detém mais informação, mas em quem sabe navegar pelas incertezas e criar soluções conectando saberes distintos.
Inovação nasce na interseção de conhecimentos
Bechtel apresentou exemplos históricos para demonstrar que muitas das inovações mais relevantes surgiram da combinação de conhecimentos de áreas diferentes.
Johannes Gutenberg, ao inventar a prensa de tipos móveis, usou princípios da fabricação de moedas e da prensa de uvas. Já Hedy Lamarr, atriz de Hollywood, contribuiu para o desenvolvimento da tecnologia que deu origem ao Wi-Fi ao aplicar conceitos de frequência de sinais usados em torpedos.
Até na medicina, Bechtel trouxe um exemplo: um cirurgião vascular que aprendeu técnicas de sutura com a avó, bordando tecidos, e usou esse conhecimento em procedimentos inovadores. “Criatividade não é saber mais. É saber conectar”, afirmou.
Do profissional "I" ao profissional "X"
Durante a palestra, o futurista apresentou um modelo de evolução do perfil profissional, do tipo “I” ao tipo “X”:
O profissional "I" tem conhecimento profundo em uma única área.
O modelo "T" combina profundidade com certa amplitude em outras disciplinas.
O profissional "X" é aquele que consegue integrar várias perspectivas, fazendo conexões inusitadas entre campos diversos.
Segundo Bechtel, “o futuro pertence a quem consegue conectar pontos que mais ninguém vê”. Essa habilidade será crucial diante de um mercado de trabalho em constante transformação.
Profissionais mudarão de carreira mais de 10 vezes
Um dos dados apresentados no painel mostra que, em média, profissionais da nova geração passarão por 12 empregos diferentes antes dos 50 anos. Esse cenário exige versatilidade e abertura às mudanças.
“As mudanças vão acontecer com você de qualquer forma. A questão é se você estará preparado para aproveitá-las”, alertou o palestrante.
A recomendação é que os profissionais adotem a mentalidade de “especialistas seriais”: pessoas que exploram diversas áreas ao longo da vida, acumulando conhecimentos e experiências que se complementam.
Oito estratégias para se tornar um profissional do futuro
Ao final da palestra, Bechtel compartilhou oito princípios para quem deseja se adaptar à nova realidade:
Seja um "learn-it-all": priorize o aprendizado constante em vez de se posicionar como quem já sabe tudo.
Treine o cérebro: dedique cinco horas por semana a um aprendizado desafiador, mas sem exaustão.
Engenhe a serendipidade: estimule encontros e experiências inesperadas para gerar conexões criativas.
Valorize a autenticidade: reconheça e aproveite suas características individuais.
Para estudantes: busque conhecimento para além das obrigações escolares.
Para líderes: estimule ambientes com diversidade de perspectivas e conhecimentos.
Misture tipos de conhecimento: combine saberes cognitivos, culturais e práticos.
Automatize para inovar: use a tecnologia para liberar tempo e focar na criatividade.
Impactos para a contabilidade e formação profissional
A tendência apresentada por Bechtel tem impactos diretos para o setor contábil. Com a crescente automação de tarefas operacionais, profissionais da área precisam desenvolver competências que vão além da técnica.
Contadores que investem em formação interdisciplinar, pensamento estratégico, comunicação e interpretação de dados tendem a se destacar. A capacidade de conectar dados contábeis a decisões de negócio será cada vez mais valorizada.
Outro ponto importante é a educação continuada. Programas de formação que promovem a integração entre áreas como tecnologia, gestão e comportamento organizacional são fundamentais para preparar os contadores do futuro.
Reforça-se, assim, uma tendência que já vem se consolidando: o sucesso profissional não está mais vinculado apenas ao acúmulo de conhecimento, mas à capacidade de aprender, desaprender e reaprender.
Para os profissionais da contabilidade, isso significa ir além das exigências técnicas e abraçar uma postura de curiosidade permanente, abertura às mudanças e vontade de construir pontes entre saberes.
Fonte: Contábeis